Logo o prazo de fechamento da coluna vai se esgotar e, caso o lado direito do meu cérebro continue em greve, existe uma grande possibilidade de eu ficar desempregado antes do fim do ano.
Pensei em fazer como o Rubem Braga fazia quando não sabia o que escrever, ele mandava o leitor se catar e pronto, sugeria que ocupassem o tempo com coisas mais úteis ou que fossem ler outros colunistas e o deixassem em paz. Só que o Rubem Braga era o maior de todos, podia tudo. Enquanto euzinho, um ilustre desconhecido, se tentasse coisa parecida, correria o risco de não ser mais lido nem pela própria família.
Fácil mesmo seria falar sobre as eleições nos Estados Unidos, sobre a cara permanente de cu com cãibra do presidente Trump, ainda mais contraída e apatetada após a acachapante derrota. No campo dos fracassos, tirar sarro do Flamengo não é uma opção que se possa descartar, visto que seus zagueiros medianos e seus laterais idosos talvez rendam uns parágrafos. Mas é que já tem tanta gente comentando de política e futebol – e parece que o mundo gira em torno disso – que eu acabaria me transformando em mais um chato sem inspiração, fazendo de conta que entendo de tudo, cagando-regras e proferindo bobagens, uma espécie de Galvão Bueno das letras.
Assim, sob pressão, sobram poucas opções. Advogados escrotos? O preço do óleo de soja? Quem sabe a pandemia resulte em algumas linhas, sobretudo por que as vacinas que pipocam aqui e acolá coloquem em xeque o limite da inépcia dos que governam. A implantação do Pix é outro tema atraente, porém, infelizmente, não tenho cacife para discorrer acerca de nenhum aspecto econômico ou tecnológico do sistema bancário brasileiro, a não ser que "pix", na minha época, era somente uma agulhada de injeção.
Tanta coisa mereceria ser dita numa crônica. Pena que eu não seja um iluminado, com o poder de controlar as palavras a qualquer momento, que nem o Zuenir Ventura, por exemplo. Aliás, dou graças ao Senhor por conseguir controlar pelo menos o meu esfíncter e, de vez em quando, cometer um texto engraçadinho. Pensando bem, é melhor não escrever nada do que bostear uma constantinice qualquer. Vovô sempre dizia: em boca fechada não entra mosquito. Amanhã converso com o editor, não há de me faltar inspiração para uma boa desculpa esfarrapada.