19/11/2019

DIAS DE CRIANÇA (2)


Eu devia ter uns seis ou sete anos de idade, e isso já faz algum tempo. A tevê estava sintonizada numa luta de boxe. Logo ao lado, minha mãe passava roupas e cantarolava uma canção de Sérgio Bittencourt.


🎶 Olho a rosa na janela, sonho um sonho pequenino 🎶


Eu brincava com os meus carrinhos Matchbox e, de vez em quando, dava uma espiadinha no combate, no qual um mulato de calção preto permanecia fixo no meio do ringue, enquanto o outro, um loiro de calção vermelho, girava em torno dele.


🎶 Se eu pudesse ser menino, eu roubava essa rosa 🎶


O locutor, esgoelando-se, avisava que o juiz acabara de descontar mais um ponto do pugilista do corner rubro. Minha mãe, sem levantar os olhos da tábua de passar, me perguntou, fingindo interesse: "Ele disse pugilista ou fugilista, meu filho?"


🎶 E ofertava, todo prosa, à primeira namorada 🎶


Com propriedade, eu que já era um ás no boxe, apesar da pouca idade, impostei minha voz aguda para respondê-la: "Acho que ele disse fugilista, mamãe, porque esse branquelo fica fugindo o tempo todo!"


Ela assentiu e continuou cantarolando a melodia, agora sem a letra.