Subiu na figueira e não descia de jeito nenhum. Desde que a construtora descumprira o acordo de preservar as árvores e demolir apenas o sobrado, ele estava acorrentado aos galhos mais altos. Do pouco que havia no terreno onde nasceu, não ligava tanto para a casa. Sua grande paixão era a centenária figueira, onde costumava se refugiar depois das aulas na escolinha do bairro. Tratou de arranjar uma corrente e um cadeado assim que viu metade do pomar destruído pelas máquinas, e não teve dificuldade para subir a quase cinco metros de altura. Exigia uma intervenção judicial que garantisse o cumprimento do contrato.
Um pequeno grupo de curiosos e dois ou três fotógrafos da imprensa escrita já ocupavam parte da calçada do outro lado da rua. A família, também presente, reduzida a um irmão e à esposa, não compartilhava do mesmo sentimento pela causa. Os operários da obra paralisaram as atividades e aguardavam instruções do advogado da empresa.
Durante os três dias em que estava ali, alimentou-se de algumas balas que trouxera nos bolsos e bebeu água da chuva. Não queria conversa nem aceitava ajuda. Pensava nos melhores momentos de sua infância, no quanto tinha sido lindo aquele lugar e no balanço que o avô construíra para ele, pouco abaixo do galho em que agora se encontrava.
Perto da meia-noite, notou que a rua estava vazia. O vigilante da construtora fazia sua ronda do outro lado do terreno. Ele abriu o cadeado, soltou a corrente e desceu da velha figueira. Silenciosamente, caminhou pelas sombras até tomar o rumo de casa. Preferiu desistir antes que o considerassem louco. Não podia mesmo fazer mais nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário