29/10/2019

DA VIDA SEXUAL DOS IDOSOS


Os velhos se reuniam no boteco todas as quintas-feiras. Chegavam por volta das dezenove horas e sentavam-se sempre ao redor da mesma mesa. Bebiam cerveja sem álcool, beliscavam petiscos com pouca gordura e falavam sobre suas amantes. Um dizia que estava mais potente agora do que na juventude, graças à pouca idade da gatinha com quem andava saindo; o outro contava que sua atual concubina o proibira de manter relações com a própria esposa, quebrando-lhe o vidro do carro como alerta; um terceiro lamentava-se por gastar em caixas de Viagra o dobro das compras mensais de supermercado; e o último confidenciava que passara a pagar a faculdade da amásia em troca de alguns chamegos fora dos padrões. A conversa fiada se repetia a cada semana, encontro após encontro: um tentando se vangloriar mais do que os outros. Às vinte e três horas, pontualmente, rachavam a conta e partiam em desabalada carreira. Enquanto não ficassem viúvos, ai daquele que aparecesse em casa depois da meia-noite.

As velhas jogavam canastra todas as quintas-feiras. Começavam cedo, perto das cinco da tarde, após um chá ou café acompanhado de bolinhos de chuva. Às vezes tomavam um Kahlúa – mas só as que não fossem dirigir depois – e falavam mal de seus homens e suas respectivas amantes. Uma dizia que, por sorte, não precisava mais cumprir as obrigações do casamento, já que o esposo andava às voltas com uma adolescente de quarenta anos; a outra dava risadas sempre que lembrava das tentativas do marido de explicar o vidro do carro em pedaços; a terceira contava que todos os meses fazia compras de supermercado também para os filhos, para as irmãs e para a faxineira; e a última comemorava o fato de seu velho companheiro nunca mais ter sugerido nenhuma prática contrária às leis da natureza. Divertiam-se muito, disputavam ao menos seis partidas e, lá pelas vinte e duas horas, despediam-se calorosamente. Faziam questão de estar em casa antes dos parceiros, apenas para ter assunto na semana seguinte.

Era às quintas-feiras que ela mais faturava. Podia escolher entre sair com os homens que ligavam por causa do anúncio no jornal ou atender aos clientes da boate nos fundos do próprio estabelecimento. Enquanto retocava a maquiagem, esforçava-se para não pensar em seus outros "padrinhos". Um deixava duas notas de cem reais em seu criado-mudo, apesar de sofrer de ejaculação precoce e jamais tê-la penetrado; o outro era depressivo, cobrava-lhe demonstrações públicas de afeto, mesmo que beirassem a violência; um terceiro comprava dela, semanalmente, várias caixas de Viagra falsificado, o que lhe rendia trezentos por cento de lucro sobre cada lote; e o último oferecera-se para pagar a mensalidade de sua segunda faculdade, dessa vez de Secretariado Bilíngue, em troca de uma simples inversão de papéis. Desdobrava-se tentando encaixar todos os encontros na agenda atribulada, mas não perdia o sono por isso. Sempre soube que os homens são extremamente estúpidos. E que tornam-se ainda mais estúpidos quando envelhecem.

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