07/05/2019

FUTEBOL


Toc, toc, toc! Três batidinhas na porta dos fundos e eu já me apresentava de uniforme e arma na mão: camisetinha do Corinthians, bola de meia, pezinhos descalços.

– Aonde pensa que vai esse anjinho?

Por maior que fosse o silêncio e o cuidado, mamãe sempre me surpreendia na saída, e perguntava apenas por perguntar, ela sabia que era chegada a hora do futebolinho matinal.

– Põe a conguinha, meu filho, assim você acaba topando um dedo.

E eu saía sem dar ouvidos.

Na rua, tudo pronto. Era o dia da grande revanche contra o time do José Mendes, de camisetinha do Flamengo. O último jogo tinha sido um vexame: seis a zero (por que botei a bola debaixo do braço e saí de fininho). O juiz era o Maionese, albino, filho do seu Dadico da fiambreria, todo de preto, apito banhado a ouro, honesto até o último fio de cabelo.

Basset Hound (Fenella Smith, 2014)

O primeiro gol da equipe rival saiu logo a um minuto de partida. No mesmo embalo vieram o segundo, o terceiro e o quarto. Lá pelo oitavo, o Demóstenes, filho do Válter do açougue, inconformado com nova derrota, tentou uma arrancada espetacular pelo lado direito: passou por um, dois, três e pimba! Era a lajota do calçamento no fundo das redes.

Estava suspenso o espetáculo.

Coitado do Demóstenes, todo orgulhoso pelo nome bonito e todo engessado, inválido, sem poder andar.

– Não desiste não, gente, vai lá e pede outra revanche – dizia o valentão na visita do time.

Na manhã seguinte...

Toc, toc, toc! Três batidinhas na porta dos fundos e eu já me apresentava de uniforme e arma na mão: camisetinha do Corinthians, bola de meia, conguinha nos pés.


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