05/02/2019

DO ABASTECIMENTO DE GÁS NOS CONDOMÍNIOS


O Oscarzinho não saía lá de casa. Como o nosso apartamento ficava no caminho para a escola 
 e ele não tinha irmãos para brincar , dava sempre um jeito de chegar mais cedo, só para matar um tempinho antes de o primeiro sinal bater. E mesmo depois das aulas, nos dias em que havia Educação Física ou reunião do grêmio estudantil, aproveitava para filar um almoço e esticar a diversão até o fim da tarde. Bons tempos aqueles da oitava série, último ano do ensino fundamental, ainda na primeira metade da década de 1980.

Mamãe vivia de cabelos em pé quando o Oscarzinho estava por perto. Sem nenhuma habilidade para o futebol, por exemplo, toda vez que chutava uma bola nas nossas disputas de "gol a gol" no corredor, era batata que acertaria uma estatueta, um quadro, um porta-retratos ou um abajur. Por isso, tínhamos sempre Superbonder à mão, para socorrê-lo nos momentos de tragédia anunciada.

Na cozinha, também era um desastre. Até para preparar um simples lanche, antes de estudar para alguma prova, ele arranjava confusão. Nós nunca fomos capazes de explicar à minha mãe – a quem ele chamava carinhosamente de "tia" – como o Oscarzinho foi capaz de derrubar uma lata de Nescau dentro de uma jarra de suco de laranja. A cor ficou bisonha, mas o gosto acabou agradando aos mais exigentes paladares da nossa turma.

Daquela época de inocência, dentre todas as histórias que envolviam o Oscarzinho, a melhor continua sendo a do fornecedor de gás. É que não havia gás central no condomínio, então, uma vez por mês, o caminhão da companhia distribuidora estacionava na calçada e oferecia o produto recarregado aos moradores interessados.

Certa vez, a encomenda estava demorando a chegar, já fazia quinze minutos que o zelador avisara pelo interfone que o entregador estava subindo. Mamãe pediu ao Oscarzinho para abrir a porta e verificar o porquê do atraso. A poucos metros do nosso apartamento, perto do elevador em manutenção, o moço uniformizado, suado e ofegante, largara o botijão e sentara-se sobre ele para descansar um pouco, após avançar cinco andares pelas escadas. O meu amigo não teve dúvidas, depois de olhar lá fora, botou de novo a cabeça para dentro e gritou na direção da cozinha:

– Peraí, tia... o homem ainda tá enchendo o bujão!
  

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