08/01/2019

CALLING DR. LOVE


Apesar de tudo, creio que não sei muito sobre amor. Mesmo tendo vivido mais casos e romances, passado por mais experiências, atravessado mais décadas do que a maioria das pessoas; mesmo que eu conheça mais palavras para expressar sentimentos – e saiba expressá-los de fato – além da média vocabular dos habitantes dos países de Língua Portuguesa; ainda assim, mesmo que vários me considerem um ás no amor e na arte da conquista, só sei que nada sei.

Digo isso porque, dias atrás, recebi um e-mail de uma leitora que me pedia conselhos sobre os relacionamentos e suas várias variáveis. Ela começou a missiva digital com uma pergunta bem simples, bem direta: "O amor existe?" E eu, obviamente, entrei em pânico. Achei melhor não mentir, apenas florear, aumentar, disfarçar e, em último caso, inventar.

O que dizer quando sempre se gostou mais do que se foi gostado? A única certeza, tanto na visão de quem entra quanto na visão de quem sai, é que o amor existe, sim. E se manifesta das formas mais inusitadas: como em um posto de pedágio, quando você pede moedas à moça ao seu lado, no banco do carona; como em um passeio público, ao avistar uma conhecida – por quem você nutria uma discretíssima simpatia – vindo no sentido contrário; ou como na festa junina da escola do bairro, na qual a professora (que também é sua vizinha) aparece vestida de prenda e coordena com pulso firme a barraca do beijo.

Desconsiderando a parte da fantasia, o normal, na minha modesta opinião, é a gente amar solitariamente, às vezes platonicamente, e sofrer e se frustrar um monte. Vá lá, cedo ou tarde as coisas se encaixam e alguém nos corresponderá quase na mesma medida. Entretanto, como isso pode ocorrer uma única vez na vida, é preciso estar atento e forte. Eu chutaria que o amor verdadeiro surge entre os 25 e os 40 anos de idade, mais ou menos. Antes disso é entusiasmo, e depois, quando passamos a nos contentar com pouco, é carência. Em resumo: o amor é unilateral. Reciprocidade ajuda, mas a regra é não existir "toma lá, dá cá", lamento.

E atração, paixão, química? Química já é outra coisa, não tem nada a ver com amor. Química é um encaixe de pele, totalmente físico. Amor é um sentimento cerebral. Daí as meninas acharem que ainda amam os primeiros namorados ou os homens fugirem com suas amantes. Após uns meses, quando o sexo fica monótono, não sobra nadica de nada.

Importante mesmo é juntar subsídios para comparação. Só dá para saber se amávamos para valer se, depois do terceiro ou quarto romance, continuamos com a impressão de que o primeiro era disparado o melhor de todos. Claro, sempre levando em conta que amamos sozinhos, por nossa conta e risco. Aquele nosso caso antigo 
– ficante, noivo(a), amante – também pode considerar, depois de três ou quatro amores, que fomos uma grandíssima perda de tempo. Cruel, não?
  

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